sexta-feira, 8 de maio de 2009

DE PROFESSOR PARA PROFESSOR: QUEM SOMOS NÓS?

A crise do sujeito no mundo pós-moderno é um sintoma da sociedade em mutação. Os papéis clássicos desempenhados pelos atores nesta sociedade em (des)organização se invertem em rotação contínua, assinalando tempos em que a pluralidade de ações anunciam novos conceitos nas atividades profissionais.
O professor, figura que ainda resiste nos círculos da fragmentada configuração social de hoje, igualmente se inscreve como sujeito em transformação, embora não percebido como tal. Ser professor, em pleno século XXI não encontra ecos ressonantes na mítica figura do professor na primeira metade do século passado. O sacerdócio magisterial, a missão vocacional suplantava qualquer intenção profissionalizante, tanto que ser professor/professora era uma função sublimada na sociedade, muito dirigida às mulheres – talhadas para a delicada profissão, quer por sua doçura e paciência historicamente preconcebidas. Naquele tempo, não havia questionamentos acintosos sobre o fazer docente, pois que ensinar remetia a uma espécie de educação bancária: conhecimentos depositados pelo mestre e retirados após algum tempo – dava-se a aula e cobrava-a em provas de conteúdos absolutamente idênticos. O conhecimento, os conceitos apreendidos significavam o sucesso do professor e, também, de quem estudava – decorando. O lugar do sujeito, então, garantia-se pela execução de tarefas docentes verticalmente planejadas, e realizadas sem qualquer problema maior.
Nas veredas do século vinte, entretanto, a partir das revoluções culturais que se instauram com o advento dos meios de comunicação, assumindo importante suporte das mudanças que se desenrolariam ao longo das décadas de 60 em diante, o professor se desinstala de sua cômoda posição de transmissor de saberes. As exigências de uma educação que atenda às demandas da sociedade colocam o professor num ponto desviante de tudo o que a própria sociedade dele espera. O desejo de ancorar o conhecimento em bases sólidas para se construir uma nação mais desenvolvida tecnologicamente, e igualmente preparada dentro de um viés humanístico adequado, entra em choque com a realidade com que o professor se depara no universo escolar. Com a fragmentação da família e seus novos modelos constitutivos, a banalização das drogas, a desvalorização da educação formal, a crise de identidade do profissional da educação – como muitos preferem ser denominados – o SER professor se dissemina numa constituinte plural identitária, em que o sujeito não mais está centrado na sua função primeira: professar saberes.
Quem somos, então, na esteira das metamorfoses sociais? Somos amigos, conselheiros, tutores, fazemos as vezes de pais e mães ausentes, limpamos a escola, fazemos campanhas ambientais, tratamos de assuntos sobre os quais nem sempre temos competência e somos... professores? As questões se insurgem, mas as respostas não nos satisfazem, principalmente porque somos parte integrante desta sociedade metamorfogênica que também se vê múltipla. De uma evidência, porém, não fugimos: a presença do olhar do Outro nos modifica, fazendo com que tenhamos certeza de que nosso lugar no mundo existe, mesmo que em constante mutação.

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